sexta-feira, 16 de agosto de 2024

AINDA SOBRE PUNIÇÕES E RECOMPENSAS - Prof. Renato Dias Martino



PRÊMIO E CASTIGO

Muitas vezes, os pais criam mecanismos de tentar facilitar um desenvolvimento que na realidade, tem seu tempo e muitas vezes, é moroso, muitas vezes, ele é lento e requer dedicação. Quando a gente fala por exemplo da punição ou da recompensa, essa é uma tentativa de abreviar este desenvolvimento. Quando eu ofereço uma recompensa por alguma coisa que na realidade seria da responsabilidade da criança fazer, eu passo a tentar abreviar um processo que seria de desenvolvimento da responsabilidade dela. A punição também está dentro dessa perspectiva. Ameaçar a criança de alguma coisa para que ela faça não se responsabilizando por aquilo, mas por medo da punição. E aí, a gente estrutura um modelo moral e não um modelo ético, onde a criança, onde a pessoa vai aprendendo aos pouquinhos e isso é sempre aos pouquinhos não é de uma hora para outra a se responsabilizar pelas suas realizações, pelos seus feitos, pelas suas tarefas e não fazer aquilo para ganhar alguma coisa ou fazer aquilo com medo de perder outra. Este é o atalho que é uma mentira, porque na realidade, isto que ele está tendo como recompensa, isso que ele está tendo como um ganho, ele pode conseguir de outra forma, em outro momento. E esta punição por exemplo, só vai acontecer se o outro descobrir que ela fez isso enquanto ela estiver secretamente fazendo isso, ela não vai ser punida e quando ela também perceber que ela não tem mais o risco de ser punida, ela automaticamente vai deixar de agir por conta do medo da punição.

RE-COMPENSA

Recompensa! Aquilo que eu faço, aquilo que eu realizo já compensa. Quando eu tenho um prêmio além disso, eu tenho uma re-compensa. Isso precisa me compensar novamente. Este é o grande problema do sujeito que não está sendo capaz de se responsabilizar. Ele não consegue reconhecer a sua realização como algo que compensa fazer. Então, não compensa fazer, só se eu tiver uma recompensa. E aí, a gente vai criando um paradigma social e isso se instala na criança a partir da criação dela em casa é mais fácil. Se eu oferecer uma recompensa, ele vai fazer isso, eu não vou precisar de ter o trabalhão que é mostrar para ele que ele precisa desenvolver a sua responsabilidade e fazer as coisas porque compensa fazer as coisas. É um atalho dos pais. Olha! Eu te dou uma recompensa. E aí, eu viro as costas e deixo ele sozinho fazendo. Agora, quando não tem recompensa, eu tenho que fazer junto com ele. Eu tenho que estar junto no processo de desenvolvimento, porque aí faz valer a pena aquilo que ele está fazendo. Porque aí, compensa fazer. Junto com o outro compensa. Sozinho eu preciso de uma recompensa.

DO CUIDADO

Quando a gente fala da ineficácia da punição ou da recompensa na transformação, na possibilidade do sujeito se tornar alguém melhor, uma pessoa melhor, a gente está falando essencialmente da criança. Do Cuidado com a criança. Quando isso chega à idade adulta, a possibilidade dessa transformação cai drasticamente. Desenvolvendo certos mecanismos de defesa que se instalam como um funcionamento tão enraizado na sua própria personalidade, que para ele abrir mão deste funcionamento é muito catastrófico no desenvolvimento dele e muitas vezes ele não dá conta de fazer isso, talvez na maioria das vezes. Esta ideia de punir ou recompensar na realidade é uma prática que acaba se instalando, porque não tem mais como fazer de outra forma. Então, ele é obrigado a ser punido porque, senão ele não faz aquilo ele é obrigado a ser retribuído para que ele possa fazer. Mas isso já está denunciando que houve uma falha na estruturação da personalidade desse sujeito, que seria bem-sucedida se ele tivesse sido cuidado adequadamente, se alguém tivesse responsabilizado por ele e que ele pudesse ter aprendido a se responsabilizar pelas coisas sem precisar ser punido e nem recompensa por fazer isso.

COMPORTAMENTO OU FUNCIONAMENTO

É importante que a gente possa diferenciar o funcionamento do comportamento. Algumas psicoterapias se propõem a mudar o comportamento. Isso não quer dizer que o sujeito se transformou no seu funcionamento. Quando o sujeito transforma a forma de funcionar ele passa a se comportar como uma extensão deste funcionamento. É diferente de propor tarefas para que ele deixe de se comportar dessa forma, porque este comportamento vai ser conveniente à situação. Um momento ele vai agir de uma forma e outro momento ele vai agir de outra dependendo das punições ou das recompensas.

O NOVO

O sujeito tem medo do novo. Mas ele tem medo do novo, sem ter consciência de que o real dano está no “de novo”. O novo liberta. aquilo que se repete de novo e de novo e de novo é o que traz a impossibilidade do crescimento da expansão


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