Dificuldade de reconhecer a realidade, a gente poderia levantar dois grandes motivos. É claro que a gente está abrindo aqui apenas dois, a gente pode ter outros motivos. Mas vamos lá! O primeiro: ter um benefício direto que a ilusão possa estar trazendo para ele que viver na fantasia, ainda possa estar beneficiando e depois a gente pode ver alguns exemplos disso, ou a dificuldade de admitir a realidade. Um é um benefício direto. Eu ganho alguma coisa não reconhecendo a realidade. Eu ganho alguma coisa estando iludido e o outro é: eu não consigo, eu não dou conta desta realidade.
ABUSO
Eu estou convivendo com uma pessoa dentro de uma relação tóxica. Uma pessoa que está abusando de mim. E quando eu falo abusando aqui, eu não estou falando diretamente de algo manifesto, por exemplo um abuso sexual, um abuso físico e muito menos um abuso moral. Eu estou falando de um abuso emocional, de um abuso afetivo, que acontece sem que o sujeito possa perceber. Ele vai perceber o desdobramento disso. Ele vai perceber o prejuízo, mas ele não percebe o abuso. Então, ele não consegue fazer a associação deste prejuízo, deste dano que está sendo causado com o abuso que é gerador disso. Porque este abuso é sutil. Ele é tratado com desrespeito, mas um desrespeito sutil. Ele é tratado com um descaso, mas com um descaso extremamente silencioso e sutil que nem ele consegue perceber e muitas vezes nem o outro que está abusando. Mas quando ele começa a descrever a relação dele com o outro para o analista, o analista começa a perceber isso e vai, sutilmente também, questionando. “Como é que é essa coisa?” “Essa pessoa te trata assim e tudo bem para você?” Mas aí, o que que acontece? Esta pessoa que está ora abusando dele também traz um benefício em outras esferas. Um benefício que pode ser desde a coisa mais material, que seria um suprimento financeiro, um suprimento de um conforto, até a atitude de dominância que traz para o sujeito uma sensação de segurança de estar do lado de alguém que é tão poderoso. Poderoso emocionalmente. Então, existe um benefício ali. Reconhecer essa realidade é inviável, porque ele perderia todo o benefício que ele está tendo. Assim, dentro do profissional, isso acontece com frequência. Um superior que trata um funcionário com um abuso emocional. Eu não estou falando nem um assédio moral, um abuso manifesto, mas um tipo de relacionamento, um molde, um modelo de relacionamento que muitas vezes seria melhor que ele abusasse moralmente, manifesto que aí o outro seria é capaz de se defender percebendo isso e percebendo o prejuízo dele. Mas, aí a gente precisa respeitar o tempo. Porque isso tende a se expandir e em algum momento vai se revelar. A relação analista e paciente vai trazer para este paciente um modelo de vínculo saudável com respeito com amor com carinho, que vai em algum momento vai acabar sendo um referencial comparativo para aquele relacionamento abusivo que ele está vivendo. Por estar ali naquele relacionamento saudável, ele começa a questionar os outros relacionamentos que não estejam sendo saudáveis. A bajulação é um abuso emocional é um abuso afetivo. Bajular o outro é uma forma de abusar do outro. Enganar o outro. Quem bajula, quem fica elogiando o tempo todo é porque, na realidade está tentando tirar um proveito daquilo. A crítica é o polo oposto. Uma crítica velada tem o intuito de: “estou te criticando construtivamente”. Tudo que o sujeito faz tem ali, um olhar crítico e muitas vezes com um embasamento inteligente para justificar esta crítica. Mas que na realidade, é um abuso emocional.